Sionismo e capitalismo

A ideologia sionista: O contexto histórico do surgimento do sionismo.

           Com o termo “sionismo”, derivado da palavra Sión [1], se define o movimento nacional judeu surgido na Europa no final do século XIX e cuja figura mais representativa foi o jornalista de origem húngara Theodor Herzl, em cujo livro “O Estado Judeu”, publicado em 1896, se define as idéias principais deste movimento.

Como afirma Abraham León [2], o pano de fundo da irrupção do movimento sionista foi à rápida capitalização da economia russa depois da reforma de 1863, que se tornou insuportável a situação das massas judias das pequenas cidades. No Ocidente, as classes médias, trituradas pela concentração capitalista, começaram a voltar-se contra os judeus cuja competição agravava sua situação. A Organização Sionista [3] surgia como o programa de um setor da grande burguesia judia que terminaria sendo dominante dentro dela.


Para León, o sionismo procura assentar-se numa explicação religiosa para justificar sua existência. Segundo a interpretação ad hoc do sionismo, no ano de 70 da era cristã, os judeus foram expulsos de Jerusalém, que estava sendo ocupada pelos romanos. Esta expatriação foi à famosa Diáspora, que dispersou aos judeus pelos quatro pontos cardiais; os judeus haviam buscado por dois milênios o retorno a Eretz Israel, considerada na Bíblia a pátria dos judeus. Veja nas palavras do fundador do sionismo, Theodor Herzl:

“Nada é o bastante forte ou o bastante rico para transportar um povo de uma residência à outra. Isto pode fazê-lo somente uma ideia. Parece que a ideia de Estado tem essa virtude. Os judeus não têm cessado de sonhar, através de toda a noite de sua história, este divino sonho: O ano que vem, em Jerusalém; são nossas palavras tradicionais. Agora se trata de mostrar que o sonho pode transforma-se em uma ideia clara como o dia” [4]

Contudo, o movimento sionista é uma reação da pequena burguesia judia, que, duramente golpeada pela crescente onda de anti-semitismo, teve que dispersar-se de um país a outro para escapar da perseguição. É que, tal como sustenta Leon, a ideologia sionista é, como toda ideologia, o reflexo desfigurado dos interesses de uma classe. O sionismo é a ideologia da pequena burguesia judia, oprimida entre o feudalismo em ruínas e o capitalismo em decadência.

Abraham Leon, líder e teórico do partido trotskista judeu belga.

Seguindo a León, o sionismo é produto da última fase do capitalismo, do capitalismo que começa a descompor-se. Porém, sustenta que sua origem se remonta a um passado bimilenário. E se bem o sionismo é essencialmente uma reação contra a crise do judaísmo gerada pela combinação do desmoronamento do feudalismo com a decadência do capitalismo, afirma ser uma reação contra a situação existente desde a caída de Jerusalém, no ano 70 da era cristão. [5].
Essa história dos judeus, tal como é contada pelos sionistas, trata de criar o pano de fundo para justificar a ocupação da Palestina. Assim, depois da violenta dispersão dos judeus por obra dos romanos, os judeus não haviam podido assimilar-se nas nações a onde emigrarão.
Imbuídos de sua “coesão nacional”, “de um sentimento ético superior” e de “uma indestrutível crença em um Deus único”, haviam resistido a todas as tentativas de assimilação. [6]. Isto não foi realmente assim, já que houve ao largo desses dos mil anos inumeráveis casos de assimilação. Contudo, de acordo com a história construída pelos sionistas, a única esperança dos judeus durante esses dias sombrios, que duraram dois mil anos, era retornar a antiga pátria.
Nesta mesma perspectiva, há que dizer que não se pode como fazem os defensores do sionismo, compará-lo com os demais movimentos nacionais. O movimento nacional da burguesia européia foi uma conseqüência do desenvolvimento capitalista que reflete a vontade daquela de criar as bases nacionais da produção, de abolir os resquícios feudais. Porém, no século XIX, época de florescimento dos nacionalismos, a burguesia judia, longe de ser sionista, era profundamente assimilacionista. O processo econômico que fez surgir às nações modernas criava as bases para a integração da burguesia judia na nação burguesa. Só quando o processo de formação das nações culminou, quando as forças produtivas deixaram de crescer, limitadas pelas fronteiras nacionais, começou o processo de expulsão dos judeus da sociedade capitalista e o moderno antissemitismo. A eliminação do judaísmo acompanha a decadência do capitalismo. Longe de ser um produto do desenvolvimento das forças produtivas, o sionismo é justamente a conseqüência da total paralisia desse desenvolvimento, da petrificação do capitalismo. Assim, enquanto o movimento nacional é um produto do período ascendente do capitalismo, o sionismo é fruto da era imperialista. A tragédia judia do século XX é uma conseqüência direta da decadência do capitalismo [7].
Justamente aí está o principal obstáculo para a realização do sionismo, a chave para compreender a crise que se vive na Palestina desde a fundação do Estado de Israel. A decadência capitalista, base do crescimento do sionismo, é também a causa da impossibilidade de sua realização. A burguesia judia se viu obrigada a criar um Estado Nacional e assegurar as condições para o desenvolvimento de suas forças produtivas justamente na época em que as condições para isso desapareceram havia muito tempo. A decadência do capitalismo, si por um lado coloca de forma tão aguda a questão judia, por outro se torna impossível sua solução pela via sionista. [8].
Isso marca como um ferro quente o caráter de classe do movimento sionista. É certo que os pioneiros da colonização da Palestina eram artesão, pequenos comerciantes pobres, personagem sem grandes posições e que nem Rotschild nem a grande burguesia judia enviaram a seus homens a colonizar a terra em Palestina. Isto foi à base do intento de criar uma imagem “plebéia” e até “0peraria” e “socialista” do sionismo. [9]. Porém, o sionismo - e não faz falta dizê-lo depois da ocupação colonial e a limpeza ética – não é socialista e longe está de sê-lo. O sionismo é o movimento de uma burguesia que buscava “livrar-se” dos judeus europeus para acalmar a fúria anti-semita e frear sua crescente participação nos partidos de esquerda. Para se estabelecer necessitaria do apoio do imperialismo, que o colocaria como seu agente policial no Oriente Médio.


Os pilares ideológicos do sionismo.
Theodor Herzl, foi um jornalista judeu austro-húngaro que se tornou fundador do 
moderno Sionismo político.


O fundador do sionismo foi Theodor Herzl. Ele define a questão judia como uma questão nacional, cuja resolução implicaria converte-la no problema de política internacional. Dado que os judeus seriam um povo e seus intentos de assimilação nos países por onde se disseminaram trás a “diáspora” haviam sido vãos, do que se trata é de separara-los dos “não-judeus” e dar-lhes um “lar nacional” (Palestina ou Eretz Israel, a terra que os pertenceria por “direito bíblico”) donde puderam resguardar-se do anti-semitismo, segundo eles, inerente ao gênero humano. Em suas próprias palavras:
“A solução da questão judia não consistia em lutar para acabar com o anti-semitismo e conseguir a total igualdade dos judeus nos países aonde viviam, senão em separar aos judeus dos que não o eram”. [10].
Como se vê, o sionismo se baseia em alguns postulados que o convertem em uma ideologia profundamente racista.
Por um lado, considera que os judeus são um povo e não uma comunidade religiosa, que Palestina foi e segue sendo a terra do povo judeu, e que o anti-semitismo e a perseguição são um perigo latente para este.
Para os sionistas, Israel é a terra do povo judeu [11] e se define como “estado judeu”, quer dizer, que não se concebe como o país dos israelenses, mas dos judeus. Esta definição implica que Israel pertence àquelas pessoas consideradas como judia independente do país que habitem, e não aquelas comunidades não-judias residentes. Isto se traduz em que um judeu de qualquer parte do mundo tem mais direito que a população árabe que permaneceu depois da ocupação israelense, apesar de viver nestas terras durante muitas gerações.
De fato, em 1950 foi sancionada a Lei do Retorno, pela qual todo judeu tem direito a assentar-se em Israel. Em 1952 se sancionou também a Lei da Nacionalidade, pela qual se confere automaticamente a cidadania aqueles chegados sob a Lei do Retorno. Evidentemente, isto não é aplicável aos não-judeus. Assim, os milhões de refugiados palestinos, conseqüência das expulsões praticadas sistematicamente pelos governos israelenses, ao longo de seus cinqüenta e três anos de historia, não tem reconhecido, por parte de Israel, o direito a voltar a suas casas e a recuperar suas propriedades. O argumento oficial apresentado por Israel para vetar o direito de retorno aos refugiados é o de que isto traria perigo ao caráter do estado judeu e, em conseqüência, de sua própria existência.
Posto que, como sustenta Moses Hesse, considerado o pai espiritual do Sionismo em 1882:
“os judeus tinham permanecido como estranhos em todas as nações”. [12].
O Estado de Israel seria o “lar nacional” para todos os judeus do mundo, perseguidos pelo anti-semitismo, característica biológica do gênero humano. León Pinsker eleito presidente da Primeira Conferencia Sionista, celebrada em Katowice, em 1884, levantou em seu livro “Auto emancipação”:
“o ódio aos judeus é uma variante da demonologia, com a diferencia de que não é algo peculiar de certas raças (...), senão que constitui um fenômeno comum à totalidade do gênero humano (...) tem caráter hereditário, e como enfermidade transmitida durante dos mil anos, é incurável”. [13].
Tendo em conta as declarações destes sionistas, poderia pensar-se que o movimento teve um rol destacado contra o anti-semitismo, que supostamente seria uma das causas do estabelecimento do Estado de Israel. Pois bem, não apenas não se engajaram em combate a morte contra o genocídio senão que, com a desculpa de que isso exacerbaria aos nazistas, as principais organizações judias e seus dirigentes se opuseram a toda ação enérgica contra o anti-semitismo nazista na Alemanha. Isto pode se ver nas palavras de um sionista honesto, algo que não se pode encontrar facilmente:
“(...) nos queixamos hoje de que o mundo não judeu não atuará eficaz, moral e politicamente contra o nazismo (...) não menos justificada está à acusação contra nosso próprio povo (...) não existem desculpas para nossa geração, nem para a maioria de seus dirigentes. Somos uma geração condenada a serem testemunhas da destruição de uma terceira parte de nosso povo, e culpável de haver aceitado a mesma sem uma resistência digna desse nome”.


Otto Adolf Eichmann foi um SS-Obersturmbannführer da nazi,
 e um dos principais organizadores do Holocausto.


 Adolf Eichmann - Encarregado pessoalmente por Hitler de aplicar a “solução final” aos judeus, mas tarde sequestrado, julgado e executado pelo Estado sionista - deixou escrito que:
“(...) Este Dr. Kastner era um homem jovem, (...) um advogado frio e um sionista fanático. Ele concordou em ajudar os judeus que não se opõem à deportação e mantivesse a ordem nos campos, se eu fizesse vista grossa e permitisse que algumas centenas ou alguns milhares de jovens judeus emigrassem ilegalmente para a Palestina (...) foi um bom negócio. "[15] O segundo princípio do sionismo é que a terra de Eretz Israel (Palestina), que o Messias teria prometido ao povo judeu, segundo a Bíblia, era "vazia". Que

Disse-se que, naqueles tempos, o território estava majoritariamente povoado por tribos nômades beduínas e que se deslocavam permanentemente. De fato, o slogam do sionismo era “uma terra sem povo para um povo sem terra”. [16]. A realidade tem demonstrado a falsidade do argumento, já que existem testemunhos da existência de povoações palestinas ao longo do território. No entanto, o sionismo tem se empenhado em intentar apagar os vestígios que mostrariam o caráter árabe destas terras, quer através da redenominação em hebraico antigo ou povoações palestinas e com o arrasamento e desaparição de povos e aldeias (530). Muitas destas famílias palestinas conservam, todavia, as chaves de suas casas, agora destruídas ou ocupadas por inquilinos judeus, como o argumento mais esmagador para desmontar a propaganda sionista.

Neste mesmo sentido, os sionistas têm se empenhado em negar identidade nacional aos palestinos, que eles vieram a desalojá-los. [17]. O terceiro tópico se refere, então, a negação de uma identidade palestina, diluindo-a em uma entidade superior e mais geral, a de árabes. [18]. Portanto, segundo seu fundamento, como árabes, deveriam ser acolhidos nos países vizinhos – também árabes – e deixar o povo judeu fundar seu estado em “Eretz Israel”. A identidade nacional palestina estava em processo de formação desde o final da I Guerra Mundial, como ocorreu com o resto dos países árabes da região (Egito, Líbano, Síria, Iraque e Jordânia). Porém, mesmo que nesses países, sob dominação colonial europea, se permitiu um estado central forte com um controle por parte da população local – ainda que fosse apenas nominal e tivessem uma forte aversão entre a população – no caso da Palestina, o poder estava diretamente em mãos dos britânicos. [19]. Isso prejudicou a formação da consciência nacional, porém, não significa que não a houvera, e não apenas como resposta ao sionismo. O argumento simplista de considerar a estas pessoas meramente árabes implica negar a identidade nacional palestina e, implicitamente, a dos países vizinhos, a considerar apenas a qualidade de árabes. Por outra parte, sua expulsão aos países vizinhos, em vez de propiciar sua integração social, econômica e política nas culturas receptoras, tem reforçado o sentimento de identidade entre os palestinos da Diáspora.

A justificação sionista da ocupação da Palestina

Palestina na antiguidade.

Desde o século XV ao XIX, Palestina esteve sob a dominação otomana. No entanto, foi um território possuído por numerosas potencias da antiguidade. 



Quatro mil anos antes de Cristo, os cananeus, um povo semita procedente do interior da Península Arábica, se instalaram nas terras desde então conhecida como Canaã e que mais tarde seriam Palestina. Os jebuseus, uma das tribos Cananéias, levantaram um povoado ao que chamaram Uru Salim (Jerusalém), ou seja, “cidade da paz”.
Os faraós egípcios ocuparam parte de Canaã em 3200 a.C. e construíram fortalezas para proteger suas rotas comercias, porém, o país conservou sua autonomia. Por volta do ano 2000 a.C. passou por Palestina, em sua rota ao sul, outro povo semita nômade, o dos hebreus, conduzido por Abraão. Sete séculos mais tarde voltaram procedentes do Egito, doze tribos hebraízem ao mando de Moises. Travaram-se violentos combates pela posse da terra. Apenas quatro séculos depois conseguiu Davi derrotar aos jebuseus e unificar o reino judeu. Mas, após a morte de seu filho, Salomão, os hebreus se dividiram em reinos – Israel e Judéia – que mais tarde caíram em mão dos asírios (721 a. C.) e os caldeus (587 a. C.), respectivamente. Nesta última data, Nabucodonosor destruiu Jerusalém e levou aos judeus em cativeiro a Babilônia.




Em 332 a. C., Palestina foi conquistada por Alexandre Magno. Depois da morte deste, retornou ao império egípcio dos Ptolomeus. Mais tarde foi dominada pelos Selêucidas da Síria. Uma Rebelião encabeçada por Judas Macabeu restabeleceu o Estado judeu no ano de 67 a. C., porém, este de pronto foi submetido à vassalagem pelo então invencível Império Romano, que tomou Jerusalém a sangue e fogo, no ano 63 a. C.. Os Romanos reprimiram severamente a resistência dos macabeus, zelotas e outras tribos judias. Como partes dessa repressão foram crucificados milhões de rebeldes, entre eles Jesus de Nazaré, por volta do ano 30 d. C.; foi demolido o Templo de Salomão, em 70 d. C., e os judeus foram expulsões de Jerusalém, no ano 135 d. C..
Os romanos deram a Palestina sua atual denominação. A dominação de Roma e, logo, a do Império Bizantino - o Romano do Oriente – se estendeu até o ano 611, quando a província foi invadida pelos persas. Os árabes - um povo semita procedente do interior da península - conquistaram Palestina no ano 634. A fé islâmica e o idioma árabe unificaram aos povos semitas, com exceção dos judeus. Com breves intervalos de dominação parcial dos cruzados cristão e dos mongóis, nos séculos XI, XII e XIII, Palestina teve governos árabes durante quase um milênio e islâmico durante um milênio e meio.


Os habitantes da Palestina

Antes que os hebreus migrassem pela primeira vez a região, cerca de 1800 a. C., o país de Canaã estava ocupado pelos cananeus: 3000 a 1100 a. C., a Civilização Cananéia já cobria o que é hoje Israel, Cisjordânia, Líbano e grande parte de Síria e Jordânia. Os que permaneceram nos arredores de Jerusalém, depois que os romanos expulsaram aos judeus no segundo século d. C., eram diferentes povos que formavam parte do ramo cananeu. Os invasores árabes do século VIII converteram os nativos ao Islã, se estabeleceram permanentemente, e se casaram com eles, sendo o resultado uma arabização tão completa de toda a população, que não se pode determinar onde terminam os cananeus e onde começam os árabes. [20].
A ampla maioria da população da Palestina no momento da criação do Estado de Israel era, portanto, árabe, pelo menos desde o século VII d. C.. Assim, em 1948 – mesmo antes da criação do Estado de Israel – setecentos mil árabes foram expulsos ou forçados a fugir dos territórios que seus antepassados haviam vivido por mais de 1200 anos para que estes fossem ocupados por centenas de milhares de judeus europeus.

Os “direitos de propriedade” dos judeus sobre Palestina

Para o sionismo, a justificativa para reivindicar a legitimidade da instalação do Estado de Israel em território palestino, está na “Bíblia e na História”. Baseia-se fundamentalmente na consideração da Palestina como sua “Pátria Histórica”, fundada na “promessa” do Messias ao povo Judeu [21]. Por suposto que historicamente, esta pretensão é infundada: os reinos Judeus de Davi e Salomão durarão setenta e três anos e inclusive sem se considerar como independente a eterna historia dos antigos reinos judeus, desde a conquista de Canaã por Davi em 1000 a. C. até a erradicação de Judéia em 586 a. C., chegamos a um regime judeu de apenas 414 anos. [22]. Os reinos judeus não foram mais que um dos muitos períodos da historia da antiga Palestina. [23].

A ocupação: gênese e desenvolvimento do Império Otomano 
a Primeira Guerra Mundial

O império otomano manteve sua hegemonia sobre Palestina até a Primeira Guerra Mundial. Durante o conflito, Londres prometeu ao chefe Hussein a independência das terras árabes em troca de sua colaboração na luta anti-turca. Ao mesmo tempo, o ministro de Relações Exterior britânico, Lord Balfour, prometia em 1917 ao movimento sionista o estabelecimento de uma “pátria nacional judia” na Palestina. O “direito” de Inglaterra sobre Palestina provinha de sua derrota militar sobre os turcos em aliança com os árabes.

Depois da Primeira Guerra Mundial, veio à divisão dos territórios que estavam em mão turcas. [24]. Para eles Inglaterra se serviu do movimento nacional árabe, que havia começado a despertar. E, por outro lado, firmou com França o acordo de Sikes-Picot, que daria a Palestina, por sua condição de ponte intercontinental, o caráter de zona internacional, ademais, a “Declaração Balfour” (2 de novembro de 1917), que foi considerada como a “aliança de borda” entre o sionismo e o imperialismo inglês. [25]. Os britânicos viram na colonização da Palestina, por parte dos judeus europeus, a possibilidade de dispor de uma localização estratégica que os permitira, por um lado, controlar o Canal de Suez e facilitar, assim, seu comercio com a Índia, e por outro lado, o acesso ao petróleo iraquiano.

Assim, começava a segunda etapa do sionismo, que culminaria com a criação do Estado de Israel. Ademais, de dar aos ingleses um valioso auxilio para estabelecer um futuro protetorado na Palestina, a “Declaração Balfour” colocava em mãos inglesas uma arma poderosa para liquidar o movimento nacionalista árabe e fortalecer a política de guerra do imperialismo britânico e sua luta contra a Revolução Russa.
Assim, Israel começava a nascer por meio de uma declaração unilateral de uma grande potencia imperialista, declaração que impões o destino de uma região da Ásia que jamais havia pertencido à Inglaterra, que dava de presente a Lord Rothschild o território de uma nação estrangeira e que não teriam em conta os desejos do povo palestino, que era 93% árabe em 1917. Essas pessoas eram reduzidas a condição de não-judeus, confinadas em uma “pátria nacional judia”, ou seja, tratados como estrangeiros em sua própria terra. [26].

O período de mandato e a fase pré-estatal do sionismo

No final da Primeira Guerra Mundial, os Aliados criaram a Sociedade de Nações, antecessora da atual Organização das Nações Unidas, que ortogou a Inglaterra o mandato sobre Palestina em 1922. Frente ao conflito gerado pelo aumento significativo da população judaica na Palestina, produto da imigração massiva, os britânicos propuseram dividir Palestina em dois estados: um judeu e outro árabe, e deixar sob a administração inglesa o corredor Jerusalém-Jaffa (Tel Aviv). [27]. Os árabes rechaçaram a divisão e iniciaram uma rebelião que apenas terminou em 1939, quando Londres abandonou a idéia e limitou a imigração. [28].

É que naqueles tempos as coisas não transcorriam muito tranqüilas para o imperialismo. Havia surgido por primeira vez na história, um Estado Operário, a URSS, que se opunha a expansão colonialista e em todo o mundo colonial se iniciava uma grande onde de lutas anti-imperialista.

Dentro do mundo árabe, o Oriente Médio concentrou as lutas mais importantes contra o imperialismo inglês e o francês. Palestina foi o centro dessa luta, especialmente durante a insurreição de 1936-39, que começou com uma greve geral que duraram seis meses e, para ser sufocada, exigiu a metade dos efetivos de todo o exercito britânico, um dos mais poderosos do mundo nesse momento. 
Centenas e centenas de palestinos foram mortos, presos e condenados a trabalhos forçados ou a longas penas de prisão. Em 1939, o povo palestino estava derrotado. Essa é a chave para entender a relativa facilidade com que em 1947-48 se instalou na Palestina o Estado de Israel.
Neste período anterior à “declaração de independência” do Estado de Israel, os imigrantes judeus começaram a apropriar-se das condições matérias necessárias para sua fundação, dado que existia para isto, o “obstáculo” de que a Palestina estava já habitada. Assim, a ocupação se deu sobre a base de três pilares do movimento sionista: kibush hakarka (conquista da terra), kibush haavoda (conquista do trabalho) e t`ozteret haaretz (produto da terra). Explicou Jon Rothschild:
“Detrás dessas sonoras palavras havia uma dura realidade. Conquista da terra significava que toda a terra possível fosse adquirida (legalmente ou não) dos árabes, e que nenhuma terra de judeus fosse vendida ou de alguma maneira retornasse aos árabes. Conquista do trabalho significava que nas fabricas e terra de judeus se dava preferência aos trabalhadores judeus. O trabalho árabe era boicotado. De fato, o Histadrut, que hoje é a Central Operaria de Israel, foi criada para impor o boicote aos trabalhadores árabes. Produto da terra significava praticar o boicote à produção árabe por parte dos colonizadores judeus, e manter somente a compra de produtos das terras ou empresas judaicas”. [29].
A compra e colonização das terras foram, então, o inicio, as condições para a criação do Estado de Israel. Por um lado, havia que impedir que estas terras pudessem ser compradas novamente por árabes. A organização sionista para a compra de terras, o Keren Kayemeth Le Israel (KKL) proibiu expressamente aos judeus alienar o solo adquirido: desde o momento de sua aquisição, seria propriedade nacional. Todavia, hoje, seguem vigentes leis que proíbem a estrangeiros, transferência ou venda para não judeus das terras que juridicamente pertencem ao KKL ou são “terras estatais”. Por outra parte, era necessário vincular a terra os colonos judeus. Oppenheimer, sociólogo e economista sionista, propuseram garantir a colonização com camponeses que trabalhassem por si mesmos a terra, bem como, o direito estatal de propriedade, já que essa é uma atividade agrícola que liga os homens a terra, assegurando-lhes o sustento e construindo um verdadeiro laço. 

Dado que o incentivo econômico do beneficio e a rentabilidade da produção move cada vez mais a empregar uma força de trabalho barata, constituída na Palestina pelo trabalho assalariado árabe, a conseqüência de uma exploração orientada abertamente ao beneficio havia sido que os árabes, privados de suas terras pela ocupação judaica, havia se tornados trabalhadores e sem direito a pretendida estrutura homogênea da população judaica na correspondente zona de colonização. Por isso, a colonização agrária devia, necessariamente, excluir o trabalho assalariado. O departamento de colonização da organização sionista determinou que se proibisse por principio o trabalho assalariado nas terras do KKL. Mais tarde, em Israel, esta condição para o cultivo das terras do KKL e do “solo estatal” se converteu em norma quase constitucional, embora muito vezes ela se quebre freqüentemente pela pressão econômica, a fim de obter benefícios. O trabalho pessoal permitiu, assim, aos colonos organizarem-se eficazmente em formas coletivas (kibutzim e moshavim), que têm um grande sentido político de propriedade da terra, não pelas idéias “socialistas” (o termos mais adequado seria coletivismo porque pouco tem que ver o estado de Israel com o socialismo) de alguns de seus membros, mas, por sua utilidade em relação à desapropriação de terras para os palestinos e que ficaram nas mãos da imigração judia organizada”. [30].

Essa política de ocupação – da qual os sionistas faziam propaganda dizendo que era uma política “socialista”, que pretendia ajudar aos trabalhadores e pobres judeus – significou a desgraça para o povo palestino, porque foi imposta sobre a terra que eles ocupavam. A pesar de ser minoria ao inicio, os sionistas teriam um poder econômico muito maior que os árabes, ademais de contar com o apoio do imperialismo.

Isto lhes deu força para cair de forma arrasadora sobre o povo árabe da Palestina, que ficou reduzido a trabalhadores desocupados e camponeses sem terras. Os árabes eram expulsos ou boicotados nas empresas de propriedade sionista ou de capital estrangeiro (concessões), que geralmente eram administradas por gerentes sionistas. Cerca de 53% das empresas eram concessões e 40% de propriedade sionista, enquanto apenas 6% eram de proprietários árabes [31]. Assim, para os trabalhadores árabes era um mercado de trabalho muito reduzido.

O mesmo se aplica ao produto da terra, uma política destinada a forçar um boicote de todos os produtos árabe. Esta repressão era praticada por bandos armados do Histadrut e não se livrava dela nem mesmo os judeus que ousassem adquirir algum alimento produzido por mãos árabes.

Eliminados da terra, do trabalho e da possibilidade de comercializar seus produtos, os palestinos se tornaram uma massa marginalizada e pronta pra ser expulsa de suas terras. A resistência palestina, em forma de guerrilha, foi praticamente esmagada em 1939 pelo Exercito Britânico e o Haganá, o exercito extra-oficiala formado pelo sionismo, em um ataque conjunto para mostrar “quem manda na Palestina”.

A Segunda Guerra Mundial e a nova “potencia protetora” dos sionistas


Nessa época, se iniciava a Segunda Guerra Mundial e os sionistas estavam preocupados pelo destino da Inglaterra – seu imperialismo protetor – ante uma nova divisão do mundo em zonas de influencia, já que queriam garantir para Palestina a proteção imperialista. Tudo indicava que os Estados Unidos da América seriam a partir de então o grande senhor do mundo. A suposta luta antiimperialista da qual ostentava o sionismo era, simplesmente, o desejo de passar de um sócio menos fortes para outro mais poderoso. Isso foi expresso com claridade por Bem Gurion:


“Nossa maior preocupação era a sorte que estaria reservada a Palestina depois da guerra. Já estava claro que os ingleses não conservariam seu mandato. Sim, se teria todas as razões para crer que Hitler seria vencido, era evidente que a Grã-Bretanha, inclusive vitoriosa, sairia muito debilitada do conflito. Por isso, eu não tinha duvida de que o centro de gravidade de nossas forças deveria passar do Reino Unido a América do Norte, que estava em vias de assumir o primeiro lugar no mundo”.


Sob a orbita estadunidense, o sionismo começou a dar grandes passos em direção à criação do Estado de Israel. Ao final da guerra, as grandes potências, através da ONU, não apenas fizeram vista grossa a ocupação e massacre do povo palestino, senão que deram o status legal à situação colonial criada durante a dominação britânica. Sob a base da proposta de divisão da Palestina, feita durante o Mandato inglês e que incendiou a revolta em todo o mundo árabe, em 29 de novembro de 1947, se votou na recente criada Organização das Nações Unidas, a divisão do país em dois Estados: uno sionista e outro árabe. 


A resolução 181 foi aprovada com 33 votos a favor [33], 13 contra [34] e 10 abstenções [35]. Na votação, os EUA pressionaram até ao limite os “doces” governos asiáticos e latino-americanos, chegando inclusive a comprar votos. [36]. Sem consulta alguma ao povo palestino e com o aval da burocracia soviética, que enviou armas e aviões para ajudar ao imperialismo a massacrar aos árabes, Palestina era objeto de um “reparto”.



Limpeza étnica e guerra expansionista, condições inerentes ao estabelecimento de um Estado Judeu.


Assim, Israel se programou unilateralmente país independente logo após ter sido afogado em um banho de sangue a resistência palestina. Os exércitos dos países árabes vencidos (Egito, Iraque, Líbano, Síria e Jordânia) atacaram de imediato, porém, foram incapazes de impedir a consolidação do estado sionista.

Isto foi por desigualdade enquanto ao poderio militar, porém, também pelas limitações políticas destes regimes. Somente Haganah, a organização semiclandestina fundada pela Agencia Judia para “colonizar mediante as armas”, sem contar as outras organizações terroristas judias, superava amplamente as forças dos países árabes que entraram na guerra de 1948 (a chamada “Guerra de Independência”). Esta organização teria em 1946, 65.000 homens e em 1948, 90.000. Um ano antes da guerra contava com 10.000 fuzis, 1900 metralhadoras e 768 mosteiros, e nos meses anteriores a Partilha, esse armamento se multiplicou. Enquanto isso se estima o total das forças árabes em torno de 21.000 homens mal equipados: no Egito reinava o corrupto rei Faruk, cujo primeiro ministro Nokrashy não teria o menor interesse em mandar homens a Palestina e desafiar aos ingleses que ocupavam o canal de Suez, em Iraque governava um fantoche dos ingleses, Nuri as Said, Síria acabava de tornasse independente dos franceses e seu exercito não superava os 3000 homens, o “exercito” libanês teria apenas 1000 recrutas, na Região Árabe, a única força de alguma importância militar, reunia 4000 homens preparados e conduzidos por oficiais ingleses. Porém, o Foreign Office chegou a um acordo com o rei Abdullah, pelo qual se impediu a Legião violar a fronteira israelense. [37].

Assim, não só não impediram a fundação do Estado de Israel mais também que este emergiu da guerra, em 1949, com um território maior que o que propunha as Nações Unidas. Mas da metade dos palestinos haviam abandonado seus lugares – expulsos ou executados pela brutal repressão. A maioria deles vivia como refugiados em Cisjordânia, território que foi anexado pelo reino Hachemita de Transjordania, e na Faixa de Gaza, que passou a ser administrada pelo Egito.

É que, para Israel, a guerra expansionista é uma tarefa essencial para manter-se em pé. Na medida em que a razão de ser do Estado sionista é levar ao “povo sem terra” a “terra sem povo”, a expansão é dissociada de sua natureza mesmo. [38]. Em 1936, Bem Gurion disse (referindo-se a aceitação da divisão da Palestina):

“um Estado judeu parcial não é o objetivo final, mas apenas o principio. Estou convencido de que nada pode nos impedir de estabelecermos em outras partes do país e da região”. [39].

E acrescentava mais tarde:

“o Estado será somente um estagio na realização do sionismo e sua tarefa é preparar o terreno para nossa expansão. O Estado terá que preservar a ordem, não pregando, senão com metralhadoras”. [40].


A desocupação e a Guerra

Desde o inicio de 1948 até a retirada britânica (15 de maio do mesmo ano) os judeus ocuparam uns 14% da Palestina, sobre cuja terra se declarou unilateralmente a criação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948. Dois meses mais tarde, iniciada a guerra com os Estados árabes, os judeus ocuparam outros 9% da Palestina, parte da Galileia, o setor central da Lida e Mamle, e o sul de Yafa). 



Ao final de outubro de 1948, as forças sionistas, já convertidas em exercito israelense, abateram a defesa egípcia do sul da Palestina e ocuparam 13% a mais de território, ao tempo que completavam as ocupações de Galileia e se adentravam no Líbano. Depois da assinatura de armistício com Egito, ao final desse ano, Israel voltou a atacar o sul da Palestina, ocupando mais 42%.

Em total, uns 78% da extensão da Palestina histórica foi despovoada pelas forças militares, ocupadas de imediato suas cidades por imigrantes judeus procedentes da Europa e submetida à criação do Estado de Israel. Em somente três meses (fevereiro-maio de 1948), pôs-se em macha um projeto meticulosamente programado para aniquilar a presença da população palestina por meio do despojo e da destruição física de seus povos e cidades. Em menos de um ano de pressão e violência militarmente organizada, o sionismo converteu a maior parte da Palestina em território despovoado e a seus habitantes, os palestinos, em refugiados obrigados a perder não somente suas propriedades e suas terras, mas seus direitos coletivos e nacionais como povo. Em 15 de maio de 1948, no território de Mandato britânico na Palestina, mais da metade dos palestinos (414.000) tinha se convertido em refugiados e 21 aldeias e cidades haviam sido já destruídas. Desde essa data até o final de maio de 1948, outras 79 localidades foram desocupados e 86.700 palestinos mais foram expulsos, somando um total de 500.700 refugiados.

A consideração de que a desocupação majoritária do território palestino teve lugar depois que entraram as forças árabes na Palestina (no mesmo 15 de maio), quer dizer, antes que se iniciasse a primeira guerra árabe-israelense, quebra outro dos mitos fundacionais do Estado de Israel, o da necessidade de autodefesa israelense frente aos exércitos árabes.

Os tipos fundamentais de operação levados a cabo pelas organizações sionistas (Irgun, Trern e a Huganah, embrião do posterior exército regular israelense) para expulsar aos palestinos foram: 1) expulsão direta pelas forças sionistas; 2) ataque militar por tropas judias; 3) campanhas de rumores e difamação da Haganah ou das forças de Seguranças Israelenses (guerra psicológica programada para obter a evacuação árabe); 4) temor ante um ataque judeu ou a ser capturados nos enfrentamentos; 5) influência exercida ante a caída de uma localidade próxima ou ante o êxodo de seus habitantes. É infundada a pretensão israelense de que os refugiados palestinos abandonaram suas aldeias sob ordens árabes - quer dizer, por própria vontade – e não pelos brutais ataques a que foram submetidos pela violência sionista. A matança de 254 civis palestinos em Deir Yasin, perpetrada pela madrugada de 9 a 10 de abril, perdura na memória como exemplo desta política sistemática do terrorismo sionista contra a população palestina.

No planejamento de despejo se adiciona a destruição física das aldeias e acampamento beduínos, enquanto que as cidades foram majoritariamente preservadas para o assentamento de imigrantes judeus. Somente 12% das aldeias foram ocupadas pelos colonos; o resto foi literalmente apagado do mapa. A escassa população palestina que permaneceu em seu lugar de origem não pode nunca recuperar suas propriedades, sendo, também, submetidos administrativamente ao novo Estado de Israel, sob legislação militar até 1967 e convertendo-se, com o passar do tempo, em cidadãos árabes israelenses marginalizados: hoje é mais de um milhão, a quinta arte da população israelense: desses, 150.000 espalhados pelo interior, expulsos de seus povos em 1948.

Concebida como um projeto estratégico destinado a perdurar, a colonização da Palestina pelo sionismo exacerba o fenômeno colonial europeu no Oriente Próximo ao impor mediante a força militar a aniquilação brutal de todo um povo. Israel, como projeto colonial imerso no tecido dos interesses europeus, primeiro, e norte-americanos, depois, na região tem, no entanto, pela ideologia sionista que o sustenta, uma característica definidora, mantida depois de 50 anos de existência: ser um Estado racista baseado na exclusividade étnica judia. Seu autoproclamado lema de ser a única democracia do Oriente Próximo se revela assim, em todos os sentidos, improcedente, enquanto que sua criação e existência estão baseadas na exclusão do povo palestino e na negação de seus direitos nacionais. Que o plano sionista imposto em 1948 na Palestina, só tem podido realizar-se mediante a negação do direito de outro povo, o palestino, a estabelecer seu próprio Estado na terra que habitava ininterrompidamente deste mais de um milênio, ilustra a injustiça inerente o seu projeto. [41].
Depois de sua fundação, com cada nova guerra contra seus vencidos árabes, Israel tem prosseguido com esta lógica implacável: ocupar militarmente o espaço, expulsar por meio da violência a seus moradores e, imediatamente, anexar o território ao Estado para assentar novos colonos judeus. E esta tem sido também, durante as três últimas décadas, a lógica da colonização do território de Gaza e Cisjordânia ocupados em 1967: dividir a população palestina de seu território, ilhando-a em núcleos densamente povoados – a Faixa de Gaza, as grandes cidades de Cisjordânia – separados uns dos outros por uma densa rede de assentamentos judeus em expansão e por uma grade de estradas e rodovias. [42].

O desastre palestino de 1948 se estende até nossos dias nos mais de 4.900.000 refugiados palestinos, que hoje seguem reclamando, desde o abandono e a miséria na qual vivem, desde sua resistência e o mantimento de sua consciência nacional, seu direito ao retorno. Meio século depois, a metade dos palestinos segue sendo refugiados. A resolução justa do problema, o reconhecimento de seus direitos inalienáveis ao retorno só será possível com a destruição do Estado de Israel, que sobradas razões tem para não existir, porque nasceu sobre o sangue de centenas de milhões de palestinos despojados e porque não está fundamentado em nenhum direito real, como se tem demonstrado. [43].

Conclusão


Israel, um produto da política do imperialismo no Oriente Médio.

Pode se dizer então que o Estado de Israel é a expansão política do sionismo, que se dá no marco da necessidade imperialista de colocar uma agencia policial no Oriente Médio frente à ameaça que significava a crescente resistência das massas árabes.

Israel, embora formalmente se reconheça como uma república parlamentar, na realidade é uma república teocrática na qual o judaísmo ortodoxo ocupa um lugar predominante, em detrimento das outras correntes do judaísmo. A ideologia sionista considera a ortodoxia religiosa como uma questão fundamental que define o caráter de “povo eleito dos judeus”. Por exemplo, a Lei sobre cidadania, aprovada em 1971, permite que qualquer judeu que “expresse seu desejo de instalar-se em Israel” se converta automaticamente em israelense. Em contrario, os árabes cujos antepassados viveram durante séculos na Palestina, são obrigados a viver como seres de segunda categoria. Ou a Lei para a Aquisição de Bens dos Ausentes, que teve como finalidade a classificação dos bens árabes que tiveram de deixar, temporariamente, para escapar da guerra ou porque foram declarados zonas de segurança pelos militares sionistas. 

Ou o artigo 125 da Lei de Defesa que tem sido empregado para impedir aos árabes de regressar a suas terras quando foram designados pelas forças de ocupação para o estabelecimento de uma colônia judaica. Com a desculpa da segurança, quase a metade da terra - que estava em poder dos árabes antes da criação do Estado sionista – tem passado aos kibutzim. [44].

Sob a mascara de uma justificação religiosa, pode se ver o papel de Israel como enclave do imperialismo no Oriente Médio. A política de Theodor Herzl, o pai do sionismo, e seus sucessores, foi a de aproveitar-se do processo de expansão colonial imperialista para ocupar a Palestina. E o imperialismo se serviu da ideologia sionista para colocar o Estado de Israel como agente policial do mundo árabe.

Assim, a burguesia judia com o aval do imperialismo impõe um movimento para: 1) confinar aos judeus mais pobres na Terra Santa, apartando-os da luta de classe na Europa e dos partidos de Esquerda; 2) livra-se, em primeiro lutar, da fúria anti-semita que crescia; 3) construir um Estado Judeu num ponto estratégico, em meio das maiores reserva de petróleo do mundo, ameaçado pela ascensão das massas árabes. O Estado de Israel nasceu como enclave do imperialismo na região, o agente policial do mundo árabe.

O financiamento de Israel é revelador da natureza desse Estado. Todas as correntes sionistas reconhecem que o Estado de Israel é desde seu inicio financiado pelos EUA e os poderosos lobbys de milionários judeus. Só nos primeiros anos de sua fundação, entre 1949-1966, Israel recebeu 7.000 milhões de dólares. [45]. Uma cifra que define com claridade a natureza do estado israelense é que já nos anos 70-80, o total da ajuda norte americana – sem contar a ajuda da “Diaspora” nem os presentes – representava 1.000 dólares por habitante/ano, o que por si só equivalia a mais de três vezes o Produto Nacional Bruto por habitante do Egito e da maioria dos países africanos. É sobretudo conhecido o dado de que anualmente EUA dão a Israel ajuda direta no valor de 5.000 milhões de dólares.

A ajuda incondicional e ilimitada recebida nestes 52 anos de existência é o preço pelo serviço que o estado sionista presta, é “o preço de custo” para que esse Estado afiance e desenvolva livremente sua função essencial: levar a qualquer preço judeu a Palestina; desempenha o papel de “bastião avançado da civilização ocidental’.

Neste marco há que considerar o problema da composição étnica de Israel, porque o que pretende este Estado é preservar seu caráter “ocidental”. Nas palavras do próprio Herzl:

“Palestina é nossa inesquecível terra natal. (...) Para Europa formaríamos ali parte integrante do baluarte contra a Ásia: constituiríamos a vanguarda da cultura em luta contra a barbárie”. [46].

Neste sentido, os judeus orientais não são “valorizados” da mesma maneira que os ocidentais.

Nissin Rejwan, um destacado judeu oriental escreveu:

“Quando o grupo sionista atual do leste da Europa em Israel fala da imperiosa necessidade de preservar o judaísmo do país, o que na realidade pensam é em pouco mais que em suas próprias características da cultura judaica”. [47].

O grupo dominante de origem ocidental, que constitui uma minoria, rechaça a cultura dos judeus do Oriente Médio, como uma cultura não judaica. A elite dirigente sionista tem sua concepção de Israel como uma sociedade ocidental que pertence ao Oriente Médio unicamente de uma maneira geográfica. O que mais preocupa aos sionistas é que Israel se arabize. Em função disto não se diminui esforços para relegar-los a um papel secundário dentro da sociedade israelense, ao tempo que se promove ao Maximo a imigração de judeus ocidentais para compensar a situação numericamente maior dos judeus orientais.


Autora: Débora Cerio
Tradução: Luis Carlos

Fonte: (Observatorio de conflictos.).
Tradução: Luis Carlos (Administrador do blog o povo na luta faz história).








WW2 e o sionismo:
O sionismo teria vencido a guerra econômica dando origem ao capitalismo?

E o capitalismo seria o 4 Reich?

...1. Eu vi quando o Cordeiro abriu o primeiro dos sete selos, e ouvi o primeiro dos quatro Seres vivos dizer com voz de trovão: “Vem!” 2 Vi então um cavalo branco. Seu cavaleiro tinha um arco, e deram-lhe uma coroa. Saiu, vitorioso e para vencer ainda mais. (Apocalipse 6:1-2).
































































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